Texto escrito por Carlos Zanetti, cliente da Adventure Club
Cheguei ao Paquistão com o coração aberto e o olhar curioso. A ideia era mergulhar numa cultura completamente diferente, pronto para descobrir sabores, paisagens e histórias que nunca havia vivenciado antes — tudo isso com a confiança de estar com a Adventure Club, que já me levou a alguns dos lugares mais inusitados do mundo.
Lahore me recebeu com aquele calor abafado de julho e uma recepção ainda mais calorosa das pessoas. A cidade é viva, agitada, complexa. Ainda no primeiro dia, fomos a um mercado local, um dos maiores de Lahore. Um caos organizado: tecidos de um lado, temperos e especiarias do outro, sons e cheiros que se misturavam. Lahore já mostrava que seria intensa.
Como em muitos países de maioria muçulmana, as mulheres são quase invisíveis nas ruas. Por ser uma cidade maior, vemos algumas, claro, mas sempre acompanhadas dos maridos.
Acordamos com mais calma, tomamos café e iniciamos o dia com um passeio a pé a partir do Portão de Delhi. Caminhamos pelo bazar, depois visitamos mesquitas mogois e antigas casas no centro histórico. Também tivemos tempo de passear pela bela Mesquita Badshahi, construída entre 1671 e 1673.
No quarto dia, choveu tanto que inundou a cidade toda. As vias foram bloqueadas, e os túneis, completamente fechados. Com toda liberdade poética, voltamos ao hotel pedindo a Ala que nos ajudasse. A chuva enfim cessou e pudemos sair. Fomos diretamente a Minar-e-Pakistan, uma torre construída na década de 60 representando a nova fase do Paquistão. Independente e soberano.
Almoçamos no restaurante que mais amei, com aquela vista de tirar o fôlego de uma das maiores mesquitas do planeta. Inclusive, preciso falar disso: algo que me deixou surpreso no Paquistão foi a comida. Uma comida carregada de sabor, de história, com um tempero que não explica: se prova.
Fomos em busca de uma outra grande Mesquita, a Wazir Khan Mosque, construída em 1634 e decorada com mosaicos de azulejos. Pequena, porém muito especial: era o local para onde o imperador Wazir Khan Mosque se deslocava às sextas-feiras para fazer suas orações no século 17. Depois, nos perdemos em becos e ruelas da Old City de Lahore. Vielas estreitas, motos e pessoas que se espremem e fazem fervilhar centenas de pequenas lojas que estão ali há inúmeras gerações.
Nos despedimos de Lahore e seguimos em direção a Islamabad, a recente capital, construída na década de 60 de forma estratégica no centro do território. Uma cidade nova, planejada e que concentra a administração do país.
No caminho, paramos em uma cidade especial, Taxila, que fora rota comercial de inúmeros impérios que a fizeram prosperar. Suas ruínas arqueológicas, testemunho dessa rica história, a tornaram Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1980. Com o declínio dessas rotas comerciais no século V, ela foi destruída pelos hunos. Chegando em Islamabad, visitamos a grande mesquita, moderna e toda de concreto, e o Monumento à Independência.
Seguimos viagem até o noroeste, rumo à fronteira com o Afeganistão, adentrando o território Pashtun — uma região montanhosa, marcada por uma identidade étnica muito própria. Nosso destino era Peshawar, cidade com mais de dois mil anos de história, que cresceu em uma planície fértil por sua posição estratégica entre Índia e Pérsia.
Peshawar foi, por séculos, um importante ponto da antiga Rota da Seda. Iniciamos nosso passeio a pé pelo Portão de Cabul, passando pela Rua dos Contadores de Histórias (Storytellers Street), onde contadores de histórias, poetas e mercadores se encontravam para partilhar lendas e notícias do mundo antigo.
Visitamos também o antigo bairro hindu, o Museu Nacional e um atelier de caminhões decorados, verdadeiras obras de arte sobre rodas que são um ícone visual do país. Já nos arredores da cidade, tivemos a oportunidade de visitar uma comunidade nômade do povo Khana Badosh, conhecidos como os ciganos do Paquistão. Fomos recebidos com música, dança e muita alegria.
Partimos rumo aos Vales de Kalash, um dos lugares do mundo que ainda persiste em toda sua essência. Os costumes, as crenças, a forma de viver. Estão praticamente intactos. A hospitalidade aquece, acolhe…
O encontro com as mulheres Kalash foi um momento muito marcante. Com seus trajes tradicionais bordados a mão, cheios de cores vibrantes, e suas coroas florais, elas caminham com orgulho por entre as vilas, preservando tradições milenares. Cada olhar, cada gesto, cada adorno conta uma história.
Na estrada, durante a longa subida entre as montanhas e os controles policiais, fizemos uma breve parada para descansar. Ao abrir a porta do carro, uma princesinha linda, chamada Shamala, se aproximou com sua cestinha cheia de saquinhos com frutas secas e castanhas.
O que mais me surpreendeu foi seu inglês impecável e sua forma meiga de tentar nos vender algo ali. Foi aí que meu coração apertou… Ela me disse que aprendeu inglês sozinha vendo o celular dos irmãos. Que devido à situação simples dos pais, ela nunca havia frequentado escolas. Dei um abraço, comprei todos os saquinhos que ela tinha e pedi ao universo que essa pequena que cruzou meu caminho pudesse sorrir sempre. E esse sorriso doce dela vou guardar comigo.
E assim chegamos ao fim de mais uma jornada. Sou grato por poder compartilhar um pouquinho do meu olhar com vocês.
Obrigado por tudo. De coração. O Paquistão foi uma surpresa!
Conheça os roteiros de viagem para o Paquistão da Adventure Club e viva essa experiência!